Morango do Amor e a Mente das Massas: O Que Freud Diria Sobre Essa Febre Coletiva?

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O doce que virou tendência nas redes e nas ruas pode revelar mais sobre o inconsciente coletivo do que você imagina.

Por Djhonatan Lucas M. Soares

Psicólogo CRP 14/08240/9

Foto de Capa: Gerada por I.A.

De repente, ele está em todos os lugares. O morango do amor, com sua casquinha crocante de açúcar envolvendo a fruta vermelha, virou presença obrigatória em festas, feiras, postagens do Instagram e vídeos do TikTok. A estética vintage, o apelo romântico e a explosão sensorial transformaram esse doce simples em um verdadeiro fenômeno cultural. Mas por que, exatamente, estamos todos obcecados por ele?

Para responder, vale olhar para o passado — mais precisamente, para 1921, quando Sigmund Freud publicou Psicologia das Massas e Análise do Ego. O pai da psicanálise não conheceu o TikTok, mas entendeu como poucas pessoas o funcionamento da mente coletiva. E o que ele disse há mais de cem anos ainda explica muita coisa.

Freud observou que, em uma massa, os indivíduos passam a agir não mais como sujeitos autônomos, mas como parte de um corpo maior. Eles renunciam à crítica individual e assumem os desejos do grupo como se fossem seus. É a partir disso que o morango do amor deixa de ser apenas um doce: ele se transforma em símbolo de pertencimento, nostalgia, estética, e até romantismo.

“Na massa, o indivíduo sente-se invencível, e ao mesmo tempo dependente do grupo”, escreveu Freud. É nesse espaço emocional que nascem as febres culturais. O morango do amor, então, não é só gostoso — é desejado porque todos desejam.

Freud via nas massas físicas — como multidões nas ruas — o lugar onde esse fenômeno se manifestava. No entanto, hoje, as redes sociais são o novo palco da mente coletiva. TikTok, Instagram e Reels formam massas digitais com lógica semelhante: pessoas buscando conexão, pertencimento e reconhecimento.

O morango viralizou quando influenciadores e usuários começaram a compartilhá-lo com filtros nostálgicos e legendas afetivas. Esse comportamento se encaixa no que Freud chamou de idealização por identificação com o líder — no caso, o influenciador digital.

Ao entrar nessa dinâmica, o indivíduo abre mão de parte de sua autonomia. Freud descreve esse fenômeno como a dissolução parcial do ego: um estado em que o sujeito é tomado pelo afeto do grupo. É por isso que tantas pessoas passaram a comprar (e até amar) o morango do amor mesmo sem tê-lo experimentado antes.

No fundo, mais do que o sabor, o que se consome é a ideia de fazer parte de algo.

Freud também falava sobre o prazer da repetição — algo que aparece com força nas febres culturais. Fazer parte do movimento de comprar, fotografar, publicar e comentar sobre o morango do amor ativa um circuito de prazer psíquico. A repetição do gesto cria um pequeno ritual de pertencimento. E na era das redes, esses rituais são mais poderosos do que nunca.

O morango do amor virou símbolo de uma geração que, em meio a crises e algoritmos, busca conexões afetivas em pequenos gestos. Freud talvez não tivesse previsto a estética Pinterest ou os filtros vintage, mas entenderia bem esse desejo coletivo, emocional e inconsciente que toma conta das massas.

Afinal, como ele escreveu:

“Na massa, desaparece a consciência da diferença individual, e em seu lugar aparece a tendência à uniformidade.”

E você? Já postou o seu morango do amor hoje?

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